sábado, 31 de julho de 2010

- Amor, não coloca esse quadro na sala pra mim?
- Tudo bem, pode deixar aí.
- E, quando terminar, leva seu filho pra dar um passeio? Eu não aguento mais ouvi-lo gritando e gritando...
(Quero mata-la. Agora mesmo. Quero arrancar sua cabeça e finca-la na parede)
- Claro, querida. Já vou...
(Quando foi que isso começou?)
- Que droga de quadro pesado...
(Quando eu me tornei esse punhado de merda?)
- Garoto, vem cá!
(Quando assinei meu nome nessa porra de contrato?)
- Pai, pai! Vamos parar no McDonald's!
(Quando isso vai acabar?)
- Mas você acabou de comer...
- Mas eu quero, pai! EU QUERO AGORA!
(Eu quero te jogar numa panela de óleo e te deixar fritando, mas eu faço isso?)
- Tudo bem, tudo bem...
(Não está tudo bem, nunca esteve)
- Um McLanche Feliz pra viagem, por favor...
(E uma arma carregada)
- Aquele é seu filho?
(Ela é gostosa)
- Ah, é sim. Quando foi que ele entrou no brinquedo?
(Quero enfiar meus dedos lá e ver a expressão que ela faz)
- Não sei, senhor. Mas se ele for ficar lá, precisa consumir dentro da loja.
(E se eu consumir você?)
- Vou tira-lo de lá num minuto.
(E joga-lo na frente de um carro)
- Menino, desce daí! Sua mãe vai me matar se souber que viemos aqui!
(Se eu não mata-la antes)
- Chega, vamos pra casa agora!
(Que casa?)
- Querida, voltamos...
(Tomara que você já tenha se enforcado)
- Ah, oi!
(Merda, não foi dessa vez)
- Já está tarde, não é?
- Vamos dormir?
(Isso, vamos)
- Vamos... Claro...
(E eu vou acordar...)


Um livro, que seria bom se tivesse saido do rascunho.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

quinta-feira, 15 de julho de 2010


Tempo Agora no aeroporto Guarapuava às 10:00

Encoberto
temperatura: 5°C

Sens. Térmica: -2°C

Vento

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sábado, 3 de julho de 2010

Meu amigo


“Meu Amigo, não sou o que pareço.
O que pareço é apenas uma vestimenta cuidadosamente tecida,
que me protege de tuas perguntas e te protege da minha negligência.Meu Amigo, o Eu em mim mora na casa do silêncio,
e lá dentro permanecerá para sempre, despercebido, inalcançável.
Não queria que acreditasses no que digo nem confiasses no que faço
– pois minhas palavras são teus próprios pensamentos em articulação e meus feitos,
tuas próprias esperanças em ação.Quando dizes: “O vento sopra do leste”,
eu digo: “Sim, sopra mesmo do leste”,
pois não queria que soubesses que minha mente não mora no vento, mas no mar.
Não podes compreender meus pensamentos, filhos do mar,
nem eu gostaria que compreendesses. Gostaria de estar sozinho no mar.Quando é dia contigo, meu Amigo, é noite comigo.
Contudo, mesmo assim falo do meio-dia que dança sobre os montes
e da sombra de púrpura que se insinua através do vale:
porque não podes ouvir as canções de minhas trevas
nem ver minhas asas batendo contra as estrelas
– e eu prefiro que não ouças nem vejas.
Gostaria de ficar a sós com a noite.Quando ascendes a teu Céu, eu desço ao meu Inferno
– mesmo então chamas-me através do abismo intransponível,
“Meu Amigo, Meu Companheiro, Meu Camarada”,
e eu te respondo: “Meu Amigo, Meu Companheiro, Meu Camarada”
– porque não gostaria que visses meu Inferno.
A chama queimaria teus olhos, e a fumaça encheria tuas narinas.
E amo demais meu Inferno para querer que o visites. Prefiro ficar sozinho no Inferno.Amas a Verdade, e a Beleza, e a Retidão.
E eu, por tua causa, digo que é bom e decente amar essas coisas.
Mas, no meu coração rio-me de teu amor. Mas não gostaria que visses meu riso.
Gostaria de rir sozinho. Meu Amigo, tu és bom e cauteloso e sábio.
Tu és perfeito – e eu também, falo contigo sábia e cautelosamente.
E, entretanto, sou louco. Porém mascaro minha loucura.
Prefiro ser louco sozinho: Meu Amigo, tu não és meu Amigo,
mas como te farei compreender? Meu caminho não é o teu caminho.
Contudo juntos marchamos, de mãos dadas”.

Gibran Khalil Gibran

quinta-feira, 1 de julho de 2010

O louco


Perguntais- me como me tornei louco. Aconteceu assim: Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas - as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas - e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente, gritando: " Ladrões, ladrões, malditos ladrões!"
Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim. E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: "É um louco!". Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua.
Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: "Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!" Assim me tornei louco.
E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.